Era muito cedo pra me importar quem eram os novos 'coleguinhas' de sala. A maioria eu já conhecia de anos antes, então sentei-me próxima às minhas amigas quando me deparei com seu rosto. Aqueles olhos azuis-esverdeados e aquela risada bem característica sua. Coisa de mineiro, vai entender. Ficamos amigos. Era papo vai e papo vem, e sem nem perceber nos tornamos melhores amigos. Ambos em salas novas, ambos com problemas que não eram ditos para ninguém. Era pessoal demais pra contar para qualquer um. Mas você não era qualquer um.
No carnaval nos reunimos na casa de um amigo e passamos o feriado juntos. Eram 6 amigos no total, e foi a partir dai que a nossa amizade começou a crescer. Contávamos tudo um para o outro, e o resto de nossos amigos, simplesmente não sabiam de nem um terço dos segredos. Criamos um diário, choramos juntos e rimos juntos. Sua casa era minha segunda casa. Íamos para lá passar a tarde para conversar e supostamente fazer trabalhos de escola.
Ganhei uma irmã. E era assim como nos chamávamos. A nossa amizade se tornou uma coisa tão grande, em tão pouco tempo que eu tinha medo de que qualquer coisa pudesse destruí-la, tão rápidamente, como construímos.
Me enganei quando pensei que alguém seria responsável pela destruição da mesma. Os responsáveis fomos nós. Nos precipitamos, deixamos de dialogar como deveríamos e contar o que nos incomodava. Era tão fácil falar que algo me chateava quando aquilo não era você.
Você começou a gostar do meu melhor amigo. Passou pela minha cabeça que algo ruim poderia acontecer, mas me empenhei para que não tomasse nenhum lado na história do relacionamento de vocês. Os dois estavam felizes com aquilo. Deixei rolar. Foi praticamente impossível, contando com o fato de que sempre ouvia as mesmas histórias repetidas vezes. Viajamos juntos e foi bem legal. Desabafei coisas que só você sabe. Até hoje.
Foi emocionante sentirmos juntas o coração acelerar enquanto o avião pousava. Ri abobadamente quando assisti à sua cabeça escorregar da cadeira e te acordar com um susto. Dancei com você, e mais que isso, fui feliz com você. Foi uma viagem muito boa, até eu perceber que ela tinha sido particularmente sua. Meu namorado, meus amigos, só falavam de você. Você havia sido a novidade dessa vez, não eu. Você sabia de coisas que eu não sabia. Você era o centro das atenções. Me senti trocada, e comecei a me arrepender de ter dividido com você a única coisa que era só minha, meu segundo lar. Tudo o que tinha, eu dividia com você. Agora, até os meus amigos mais meus. Me senti sufocada e sem espaço. Sem vida sem você.
Voltamos de viagem e você, namorando o meu melhor amigo, foi capaz de traí-lo. Uma vez que me sentia perdida no meio de toda a confusão, não sabia o que fazer, mas sabia exatamente quais eram os sentimentos um do outro. Ele te amava como nunca tinha amado alguém, ou assim pensava. Enquanto pra você, aquilo não passou de uma aventura. Exigi que você contasse a verdade, sem pensar em quão ruim sua imagem ficaria para os outros. E de repente você começou a sumir da vida de todo mundo. Aqueles amigos que só falavam de você, começaram a perceber que a sua amizade não passou de um momento conveniente. Aquilo foi quase o fim da nossa amizade. Apelei. Obriguei a fazer algo que não queria. Sabia que era errado, mas não podia deixar você cometer aquele erro. Principalmente sabendo que quem podia sofrer as consequências, era eu.
Ainda assim, te defendi o quanto pude e busquei te ajudar da melhor maneira possível, a superar aquele relacionamento fantasiado que tivera. Dentro de mim, não entendia quem você estava se tornando. Mas sabia que você tinha mudado. O simples fato de ter traído alguém que você dizia ser importante, fez com que eu caísse de cara no chão e percebesse que você não era mais a pessoa que eu pensava que era. No meu aniversário você me fez ficar na expectativa de uma baita surpresa. Nada. Meses depois você admitiu que nunca tinha feito nada, mas que queria ter feito.Percebi que a nossa amizade também não era a mesma.
Começamos a nos desentender, brigar, discutir coisas bobas. Você chegava na sala, se excluía em um canto e chorava sozinho. Não havia nada que eu falasse ou pedisse, que fizesse você me contar os motivos. Nos afastamos cada vez mais e suas atitudes, as mais simplórias, eram pura falsidade na minha visão. Passei a mudar meu modo de vê-lo e descobri que você nunca foi você. Suas palavras, seu jeito, era tudo para se sobrepor. A família perfeita, a vida perfeita, o rosto perfeito, a beleza, o corpo, a escola, o irmão. Tudo na sua vida era perfeito. Quando deixava de ser, o drama não podia ser maior. Você nunca teve uma família normal, uma vida normal, o rosto normal... Quando não era perfeito, era a pior coisa do mundo. Você nunca teve um equilíbrio. Ou o namoro estava ótimo, ou estava desabando. Meio termo. Não existe isso no seu dicionário, simplesmente.
Nossa amizade se tornou motivo de cobrança. Você me confessou o mundo, o seu mundo, e eu era responsável por cuidar dele e fazer dele um lugar bom e feliz. Era muito para pedir pra uma pessoa. Por isso, muitas vezes te decepcionei. A maioria sem querer. Uma ou outra, eu estava de saco cheio e cheguei ao ponto de não me importar. Que ponto chegamos, ein? Você me mostrou tanta coisa e me deu tanta coisa pra cuidar, que deixei de cuidar de mim para cuidar de você. Não falava o que eu sentia para não te machucar e aquilo me martelava por dias e dias. Até eu explodir por motivo nenhum.
Seu gosto pela atenção me irritava, sua voz alta, seu exagero e sua falsa felicidade eterna. Sua vida era como um filme. As coisas que você dizia não pareciam sair de você. Nada era autêntico e espontâneo, tudo era previamente calculado e pensado. Até quando você queria que parecesse atitudes impulsivas.
Você nunca foi você. Você via um dos nossos amigos felizes e tentava copiar suas felicidades, à sua própria maneira. Cada hora você tentava alguma coisa. Um menino mais velho, um amigo, um namorado a distância... Quando você vai ser você? Quando você vai se deixar sentir, e não dizer que sente pra se encaixar? Eu quero o amigo que eu conheci antes, que até hoje, foi a sua mais autentica versão. Gostava de ser criança com você. Você fazia parecer natural. Gosto da sua versão autentica.
A nossa amizade foi se torcendo ao contrário. Mesmo no dia que você me escreveu cartazes pedindo desculpa, não fui capaz de ver sinceridade. Gosto de simplicidade e aquilo foi o oposto disso, por isso não pareceu sincero.
Tudo o que um dia eu gostei em ti, passei a detestar. Você mudou. Não te conheço mais e não sei nada da sua vida. Do seu namoro e do seu relacionamento com seus pais (confesso que é culpa deles quem você se tornou. Relação mais instável que essa, impossível), da sua faculdade...
Mas eu preciso confessar que tomei na cara. Um dia você disse que sentia minha falta e eu respondi 'também', mas não foi sincero. Hoje a situação se inverteu. Sei da sua vida por fofoca dos outros e não possuo mais a intimidade de te aconselhar a não fazer a coisa errada. De te ligar, de te confessar algo, nem de sair com você. Quem somos nós? Quem é você?
A única vez que eu me dispus a admitir e deixar lágrimas escorrem no meu rosto por saudade de você, você me disse que era recíproco, mas acho que já aprendeu a viver muito bem sem mim. As coisas não mudaram. Eu corri atrás de você, abri mão do meu orgulho, de tudo o que eu usava como escudo, e tentei ter a nossa amizade de volta. Nem sequer por uma noite. Passei a mão em sua cabeça inúmeras vezes para te ajudar, te acolher. Nunca recebi de volta. As coisas que aconteceram comigo, você não sabe. Nem nunca quis saber. Acho que para você me procurar você teria que ter uma notícia bombante. Pra pelo menos fingir que se importa, ou lembrar que se importa.
Você me contou em uma noite o que o mundo já sabia, menos eu, e vice-versa. Foi a noite das novidades. E não passou de uma noite. Você sumiu de novo. E eu voltei a pensar em você e a sentir sua falta. Acho que agora não tem muita coisa que eu possa fazer. Eu tentei ter aquele ano de volta. As conversas, as risadas, os choros. A autenticidade. O amigo que eu criei um diário e admirava por seu jeito tão único. Sinto ciúmes, ou inveja - não sei - do "resto de nossos amigos". Eles sabem de você bem mais que eu. Acho que nem entro mais nessa categoria, pra ser bem sincera. Vejo você tornando nossa amiga em sua nova irmã e vejo que minha vez realmente passou. E vejo também você tomando as decisões erradas, e não tem nada que possa fazer.
Um dia desses entrei no seu blog pra ver se você algum dia tinha postado algo sobre mim. Nada. Acho que é realmente em vão esperar por algo. Você não é o mesmo, não te reconheço. Seus valores mudaram, seu jeito, essa sua mania por grandeza. Não sei mais o que fazer. Lavei minhas mão, desisti e cansei. Se algum dia você me quiser de volta como amigo, realmente amigo, você não vai me ter mais.
Acho que admiti sentir sua falta tarde de mais. Eu me tornei qualquer um. Vai ver a gente realmente nunca foi irmãs. Vai ver não passou de um sonho.
Um comentário:
ou de um capítulo, ou de uma cena de filme.
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