13 março 2012

Do tubarão chupando manga ao Titanic

Depois do almoço sempre escutei minha avó gritar comigo e com meus primos que se entrássemos na água, a boca ficava torta. Nunca entendi muito bem o porque, e quando perguntávamos, a resposta era quase sempre: “ Eu não arriscaria se fosse você!”. Talvez isso não tenha passado de um mito, mas nunca fui corajosa o suficiente para entrar na piscina logo depois do almoço para comprovar a teoria.
Uma hora era o tempo que precisávamos esperar para poder continuar a brincar. Vida de criança, na cabeça delas, é sempre injusta: tem que parar de brincar, não pode brincar ainda, tem que tomar banho, está na hora de dormir. O que eu sei, é que ficávamos na beira da piscina chupando manga do pé, esperando passar o tempo. Lembro-me que uma vez arrisquei voltar a nadar cinqüenta e cinco minutos depois. Faltavam apenas cinco minutos, pensei, mas eu rezei pela minha boca. Nada aconteceu.
Depois de comer manga, que por sinal, nunca levei muito em conta o tempo após comê-la, entrávamos nas águas do Mar Bravo. Os monstros que nos atacavam congelavam no tempo e esperavam ansiosos pela nossa volta. Éramos sete primos, e cada um inventava a história que quisesse. Um era o tubarão, que todos tentavam desesperadamente fugir dele, a outra era a sereia, que lutava contra o tubarão para proteger os passageiros do Titanic que já estava embaixo d’água.
Usávamos o limpador da piscina para tentar escalar sem cair. Era impossível. Na nossa imaginação, era na ponta dele que se encontrava a chave de um cofre individual do Titanic. Respirar fundo, segurar o ar, escalar até a ponta e pegar a chave imaginária que abriria o cofre, o último e mais fundo azulejo da piscina.
Quando conseguíamos pegar o que havia no cofre, uma pedra, enfrentávamos ninjas com poderes mágicos que jogavam água e tentavam roubar a pedra de nós. Era uma verdadeira briga. Um jogo cheio de regras e ao mesmo tempo sem nenhuma. Enquanto uns “plantavam bananeira”, outros competiam para ver quem conseguia ficar mais tempo sem respirar. Os que saíam vitoriosos iam para o salão de beleza, para concorrer ao Mis Penteado 1998. Eram cabelos enrolados até o topo da cabeça que tentávamos equilibrar para uma simples foto. A criatividade rolava solta. E a aventura só acabava quando os dedos enrugavam, a boca ficava vermelha, e o frio incomodava.
Terminávamos o dia assistindo ao sol se pôr em cima da árvore. Cada um tinha um lugar marcado com um pedaço de tapete emborrachado que havíamos aparafusado, e foi assim todos os finais de semana e dias de férias da minha infância.

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